Segundo dados do Ministério da Saúde (MS), que indicam um aumento na taxa de detecção de Aids nos últimos dez anos entre os homens mais jovens, o Brasil concentra o maior número de pessoas com o HIV na América Latina. Pensando nisso, pesquisadores de cinco regiões brasileiras realizam um levantamento nacional que auxiliará o desenvolvimento de estudos para avaliação dos aspectos sociais e comportamentais de risco de exposição ao HIV em adolescentes e jovens adultos.
O estudo busca comparar contextos comunitários de cinco cidades brasileiras: Manaus, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador, e visa compreender os meios de exposição ao HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) de adolescentes e jovens de 15 a 19 anos no âmbito comunitário, e identificar a diversidade regional no Brasil neste segmento da população. Em Manaus, a pesquisa é sediada pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), sob a coordenação do professor do Núcleo de Estudos Psicossociais sobre Direitos Humanos e Saúde da Escola Superior de Saúde (NEPDS/ESA/UEA) e do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGSC/UEA), André Luiz Machado.
“Comparando os dados de 2007 e 2017, a taxa passou de 3 para 7 casos por 100 mil habitantes na faixa de 15 a 24 anos, e de 15,6 para 36,2 casos por 100 mil habitantes entre os indivíduos com 20 e 24 anos. Já entre as mulheres a taxa de detecção de Aids vem apresentando uma tendência de queda em quase todas as faixas etárias. No entanto, quando considerada a taxa de detecção do HIV entre gestantes, observa-se um aumento de 21,7%, comparando os dados de 2007 a 2017, sendo que as regiões Norte e Nordeste apresentaram maior crescimento”, expõe o professor.
De acordo com Machado, estes dados sinalizam a necessidade de compreensão da exposição ao risco sexual da epidemia de HIV e de outras ISTs entre a população jovem. Mostram também a necessidade também de compreender as mudanças na esfera da sexualidade produzidas pelo uso de redes sociais e aplicativos de encontros. Outro aspecto é a violência, que tem impactado fortemente a sociabilidade dos jovens, sobretudo dos que moram em regiões da periferia dos grandes centros urbanos.
Como surgiu?
A pesquisa é fruto de iniciativas já realizadas em São Paulo e Porto Alegre, através do “Projeto Fast: Viabilidade e Aceitabilidade do Autoteste do HIV em Espaços Comunitários”. Foi a partir disso e da chamada do MS e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sobre Pesquisas em Ações de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, HIV/Aids e Hepatites Virais, que o grupo buscou expandir o campo. Em Manaus, a pesquisa iniciou em novembro de 2020, no bairro do Educandos e terá duração de dois anos.
Como funciona?
Será utilizada a observação etnográfica para mapear as áreas de interação social em termos de lazer (festas, bares, clubes, futebol e grupos de jovens), trabalho e atividades da vida diária (mercados, escolas, salões de beleza), frequentados por jovens e adolescentes. Estima-se que o mapeamento necessitará de aproximadamente três meses de observação em cada um dos contextos pesquisados.
As concepções sobre risco, HIV/Aids, estratégias de prevenção acionadas e a relação com os serviços de saúde serão obtidas através de aproximadamente 30 entrevistas semiestruturadas com adolescentes e jovens de cada uma das comunidades estudadas. Ainda com o foco em identificar as estratégias de intervenção mais eficazes para o público jovem, serão realizados grupos focais para identificar tanto os canais de comunicação, quanto as linguagens mais adequadas aos diferentes segmentos deste grupo. Serão realizados dois grupos focais em cada uma das comunidades estudadas
A coordenação geral é vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS/RS), através da Profa. Dra. Daniela Knauth. Nas demais regiões, a pesquisa é sediada pela Universidade de Campinas (UNICAMP), sob coordenação da professora Regina Maria Barbosa; Universidade do Estado da Bahia (UNEB), sob coordenação do professor Laio Magno; Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ), sob coordenação de Simone Monteiro, além da participação da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (ABIA).
Texto: Guilherme Oliveira / ASCOM UEA