Dispositivo criado por engenheiros da UEA avaliará qualidade da água de Parintins em tempo

A iniciativa visa proporcionar uma melhor qualidade de vida daqueles que dependem e interagem com os recursos naturais

A qualidade da água do município de Parintins (a 369 quilômetros de Manaus) será monitorada por um dispositivo desenvolvido por engenheiros da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). O sistema, batizado de PCD Yara, tem o objetivo de mapear, avaliar e padronizar as informações coletadas no rio Amazonas para contribuir nas soluções e nas políticas públicas voltadas à gestão sustentável de recursos hídricos.

O sistema conta com dispositivos eletrônicos de sensoriamento que coletam e transmitem, via rede sem fio, informações relativas à cor, índice de PH, temperatura, condutibilidade, turbicidade e concentração de oxigênio na água. A plataforma de testes está instalada na orla de Parintins e transmite as informações, em tempo real, para a estação base, localizada no Centro de Estudos Superiores de Parintins (Cesp/UEA), distante cerca de 1 quilômetro do ponto de coleta de dados.

Segundo o reitor da UEA, Prof. Dr. André Zogahib, a universidade desempenha um importante papel na implementação de projetos que visam o desenvolvimento sustentável do estado. “Conhecer a Amazônia é o melhor caminho para que possamos preservá-la. Além disso, ferramentas como a do projeto Yara permitem que sejam feitos estudos importantes sobre a qualidade da água em nossos rios, e este é um conhecimento vital para o desenvolvimento dos aspectos econômicos e sociais da região”, disse.

O Prof. Dr. do Mestrado em Recursos Hidricos (ProfÁgua/UEA), Carlossandro Albuquerque, explica que a iniciativa surgiu há três anos como projeto de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) sustentado pelos sete parâmetros regulamentados pela questão de recursos hídricos da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) que avalia em campo a qualidade da água.

“Começamos a construir um projeto que pudesse trabalhar sensores para monitorar a água de forma contínua, a construção de hardwares e a parte de software. Além, da transmissão de dados – que é um grande desafio para nossa região, devido à internet na Amazônia. Desde o dia 4 de agosto realizamos o primeiro teste de campo, ou seja, da elaboração, fase do protótipo. Agora, vamos fazer as validações. Ocorrendo tudo como previsto, colocaremos o equipamento em teste nos próximos três meses e, após isso, apresentaremos aos órgãos ambientas”, disse.

Sobre os desafios, o professor ressalta que é necessário seguir rigorosamente os parâmetros de monitoramento para oferecer água de qualidade para a população, com o objetivo de evitar colocar em risco a saúde das pessoas que consumem diariamente o líquido.

“A proposta do projeto é começar a ter essa avaliação, de forma remota, em várias regiões no nosso Estado. Nesse sentido, o PCD Yara vai monitorar esses sete parâmetros que serão indicativos de alerta para os órgãos ambientais sobre alguma alteração. Ter uma água que possa ser consumida dentro dos padrões naturais é um grande benefício para a população”, explicou.

Estrutura apropriada para a região – Para o coordenador do projeto, Prof. Dr. José Camilo, o ambiente amazônico é, por natureza, inóspito e cheio de características desafiadoras. Portanto, o sistema foi planejado para suportar esforços estruturais, intempéries climáticas, além de uma enorme gama de variáveis no ambiente onde está inserido.

“O Yara tem uma peculiaridade que é monitorar a qualidade da água numa região dentro da floresta, onde não se tem recursos, principalmente de comunicação. Isso se torna um grande desafio. Entretanto, o ponto favorável nesse cenário é o nosso protótipo formado por uma placa com sensores e circuitos impressos e projetados na UEA com um valor muito abaixo do mercado. Normalmente, esses equipamentos custam, em média, R$ 300 mil, valor que impediria a realização do projeto pela universidade”, pontua o coordenador.

Expansão para bacia do Amazonas – O docente revela, ainda, que logo após as etapas de avaliações, ajustes necessários do equipamento e validações de tudo que foi desenvolvido, o mapeamento da qualidade da água será estendido a outras localidades da bacia hidrográfica do Amazonas. De acordo com Camilo, o projeto é escalável e, também prevê sistemas adicionais de monitoramento, como a análise microbiológica, durante o processo de aquisição de dados.

“Nossa missão aborda a qualidade da água, pois a evolução demográfica e a falta de tratamento de efluentes vão ocasionar o aumento da concentração de agentes poluentes nos rios, ao ponto em que se torna impossível garantir que não haja um impacto negativo generalizado por maior que seja o rio”, alerta.

Interdisciplinaridade – O projeto conta com uma equipe formada por 14 pessoas entre engenheiros, químicos, biólogos, bolsistas graduandos e graduados, todos trabalhando com ações mistas, além da parceria com o mestrado em Gestão e Regulação de Recursos Hídricos (ProfÁgua/UEA). A execução do projeto conta, também, com especialistas do HUB – Tecnologia e Inovação, sediado na Escola Superior de Tecnologia (EST), sob a coordenação geral do Prof. M.e André Printes. Em Parintins, sete pessoas desenvolvem o software do PCD Yara (análise dos dados). Já a equipe de Manaus é responsável por desenvolver a etapa de hardware (parte física da placa).

“É interessante dizer que esse é um projeto multidisciplinar e interdisciplinar. Tivemos a oportunidade de fazer essa interação com os professores do ProfÁgua, responsáveis pelo conhecimento da qualidade da água e dos parâmetros que precisam ser avaliados. Esses profissionais conseguem nos explicar os parâmetros corretos sobre a qualidade da água, o que precisa ser lido pela sonda e tudo aquilo que a engenharia não consegue entender em relação aos recursos hídricos. Também temos a equipe dos cursos de Química e Biologia de Parintins nesse suporte. Esse time é responsável pela leitura dos resultados no rio três vezes por semana”, explica o coordenador do Laboratório de Sistemas Embarcados (LSE), Raimundo Cláudio.

Apoio — O projeto conta com o apoio dos docentes Prof. Dr. Carlossandro Albuquerque, Prof.ª Dra. Ieda Batista, Prof. Dr. Fábio Cardoso, Prof. Dr. Rafael Jovito e M.e Manoel Rendeiro, além do aporte financeiro da empresa Diebold Nixdorf.

“Estamos muito contentes em fazer parte deste projeto, que visa criar um fluxo linear de informações por meio do monitoramento da água na região amazônica. Nosso corpo de diretores no Amazonas segue um padrão de sustentabilidade e responsabilidade social, características mundialmente reconhecidas em nossa marca”, comenta Fernando Curcio, diretor industrial na Diebold Nixdorf Brasil e responsável pela fábrica da corporação em Manaus.

Texto e fotos: Gerson Freitas e Arquivo/UEA

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